Compositor: Não Disponível
E assim como é
O Sol deve nascer em amargura e luto pelo que passou
O lamento da Lua ainda desponta apesar da canção d’Ele
Ó, cansado porém firme, o Sol do Pai deve seguir com seu tormento
Como cordeiro ao matadouro
E para quê?
Ó, Deus!
Onde está tua honra?
Um Filho nascido de sangue Peregrino enviado à forca, e para quê?
Para ensinar uma lição nascida do sofrimento?
É isso o que resulta da entrega à tua ordem caótica?
Não serei mais tolo aos teus olhos
Nem às tuas mãos!
Não permanecerei mais de pé
Conformado a viver como escultura à tua imagem
Assim como acima, assim embaixo
Ao criar, destruo
Sou lembrado de um tempo
Em que havia amargura no peito, e eu gostava
E não deveria ser surpresa, caros Peregrinos
Por tempo demais fervi nas trevas
Sangrei pelo Filho que há em todos nós
Convencido de propósito e luz, afoguei minha visão
Ó, que paradoxo
Pois pensei já ter visto tudo
Pois mártires são todos
E antes do orgulho, vem a queda
Não parece haver um precedente?
Se o masoquismo é sua própria recompensa, por que abominar sua essência
Quando apenas a escuridão tem algo a ganhar da luz?
Quem sou eu, então, para lamentar a noite escorrendo rumo à alvorada
E a transitoriedade contida em seu abraço?
Ah, quando tudo se torna Cinza e Ferrugem, e tudo colapsa em pó
É que se encontra uma liberdade pútrida
Tal é a beleza e o terror do Carnaval Sombrio
E você vê agora, não vê?
Não vê?
Diga-me que compreendes o que leva um homem a derramar seus segredos
Numa página tão nua e humilde diante de seu ofício
Sua pena cheia de sangue e tinta para rabiscar sobre o papel
Uma diatribe celestial e egotista de conceitos
Essa é a alquimia da poesia
Do pensamento à pena, à forma
Como foi escrito, como foi contado pelas forças eternas e inefáveis
O que mais será necessário para compreender o que foi escrito na pedra?
Até que ponto desafio minha própria vitalidade?
Até que ponto vilifico a realidade?
Prestai atenção, caros Peregrinos
Pois isto é o que é estar carregado da própria honestidade
Chega
E por isso derramo-me romanticamente como um Peregrino nascido do terror e da dignidade
Mesmo que apenas por responsabilidade
Finalizarei falando minha verdade
Tal é a beleza e o terror do Carnaval Sombrio